sexta-feira, 28 de março de 2008

O ultimo capitulo??

E eis que, num piscar de olhos, passou quase um mes desde a ultima vez que aqui partilhei historias...

Foi um mes recheado de viagens, encontros e aventuras que vou tentar resumir e partilhar. Terminado o relato, chega a altura da despedida pois amanha a British Airways vai-me dar uma boleia ate Portugal. Momento de dizer adeus a vida de nomada (pelo menos por uns tempos) e de dar inicio a uma nova fase com os pes assentes no nosso belo Condado Portucalense.

Mas antes de mais, vamos as actualizacoes:

( que, infelizmente, nao serao acompanhadas de fotografias porque, neste preciso momento, a minha maquina fotografica resolveu entrar em greve. Espero que nao esteja a sofrer de nenhuma maleita grave, a perspectiva de perder todos os meus registos fotograficos dos ultimos meses tem o seu "que" de assustador...)

Uma versao um pouco mais tostada de mim propria abandonou o paraiso tailandes no inicio de Marco e passou uns dias em Bangkok, a matar saudades de gastar dinheiro em compras e a dizer adeus as cervejas Chang e Singha. Concluidas as despedidas, apanhei um aviaozito fragil e pequenito (nao houve turbulencia que passasse despercebida, cheguei a questionar-me se estaria numa montanha russa) e aterrei novamente na India, mais precisamente em Calcuta.

Nao consigo explicar bem este meu fascinio pela India mas a verdade e que, assim que entrei no aviao da Indian Airlines, senti-me em casa. Os sons, os cheiros, as cores... O sotaque do "ingles versao indiana", o cheiro a caril e incenso, os fortes contrastes das roupas coloridas, os filmes recheados de musica e cenas de danca. Toda uma conjuncao de pormenores que, durante os muitos saltos que o pequeno aviao deu, me fizeram sentir que estava ja com um pe assente na India.

Aterrei em Calcuta sozinha, toda entusiasmada com a perspectiva de viajar por minha conta nesse pais onde, por vezes, as dificuldades se fazem sentir de forma bem mais intensa para as muheres. Depois de um dia em Calcuta, a dormir numa especie de caixa com uma cama no interior (a qual os donos da Guest House resolveram chamar "quarto") e a tentar ignorar os muitos apelos de homens-melgas que tentavam meter conversa, resolvi por-me a caminho de Allahabad.

Interessante como tenho ouvido tantos relatos de pessoas que viajaram pela India mas, quando estou a viajar por ca, parece sempre tao dificil encontrar outras pessoas mais esbranquicadas com maloes as costas. Ao fim de tres dias, dei por mim a suspirar por uma companhia, alguem com quem pudesse estabelecer uma comunicacao baseada em mais do que duas ou tres palavras.

Allahabad nao cativou o meu espirito. Resolvi seguir para Khajuraho. Estava muito curiosa quanto a este destino: Khajuraho e uma pequena vila, famosa pelos seus templos (descobertos pelos ingleses no final do sec. XIX), cujas fachadas chegaram a ser consideradas como "indecentes" e "inapropriadas". Isto porque os templos se encontram cobertos de magnificas esculturas com imagens que parecem saidas do Kama Sutra, algumas incluem ate "actividades" entre humanos e animais.

Inicialmente estava a planear ficar um ou dois dias em Khajuraho mas a verdade e que, assim que la cheguei, senti logo vontade de prolongar a minha estadia. Nao necessariamente pelo local fisico em si, fosse pela aldeia ou pelos templos, mas mais pelas pessoas com quem tive a oportunidade de me cruzar. E depois de uns quantos dias a comunicar quase exclusivamente comigo propria, soube muito bem voltar a "viver em sociedade".

Entre as varias pessoas que conheci, acho que a historia mais interessante a partilhar e a do Farshad. Ora bem, uma manha estou eu na internet, entretida a mandar os meus mails, quando um americano vestido a Saddhou (homem santo) vem ter comigo para me pedir um favor: ele e os dois amigos indianos queriam fazer um site para a agencia de viagens deles mas nao tinham maquina fotografica. "Levamos-te a passear de mota por Khajuraho, ficas a conhecer umas aldeias aqui perto, DE GRACA, desde que tires umas fotos para nos com a tua maquina".

Soa a "treta", nao e?? Mas ele e os amigos deles eram tao simpaticos que la fui. E valeu a pena! Pelo meio, o Farshad (americano de origem iraniana) la me disse que tinha chegado a Khajuraho ha uma semana, tinha vindo num dos muitos grupos gigantescos que viajam por intermedio de pacotes turisticos, em autocarros privados, e ficam uns dois dias em cada sitio, em hoteis de luxo. Ele nao estava a gostar nada de viajar pela India desta forma e, assim que chegou a Khajuraho, um indiano foi ter com ele, disse que "sentiu" que ele devia ficar por la, ofereceu-lhe a casa dele e propos-lhe uma serie de actividades que ele poderia realizar em Khajuraho. O Farshad nao hesitou: abandonou o grupo com quem viajava, cancelou o regresso aos EUA, e resolveu ficar naquela localidade da India enquanto tiver possibilidades financeiras para o fazer.

Houve momentos em que me questionei sobre a veracidade da historia dele mas a verdade e que, assim que regressei a minha 'casa', a primeira coisa que o dono do hotel me disse foi "aquele americano que anda por ai e meio doido, aqui ha uns dias resolveu trocar o conforto de um bom hotel pela casa de um homem da aldeia".

Ao fim de uns 4 dias, chegou a altura de seguir caminho para Delhi. Tinha um problema burocratico para resolver: o meu visto expirava no dia 23 de Marco mas tinha o meu voo de regresso a 29 desse mes. Depois de umas 20 horas de viagem, autocarro e camioneta, coberta por uma vasta camada de po, chego a Delhi pela manha, tomo um duche rapido e ponho-me a caminho do FRRO (Foreigner's Registration Office - a "seca" das "secas"...). Tinha ponderado a hipotese de nem sequer resolver o problema, fazer-me de parva assim que chegasse ao aeroporto, no dia da partida, e logo se via. Mas felizmente optei por nao o fazer: e que mal cheguei ao FRRO, conheci um casal de Singapura que, na noite anterior, tinham sido impedidos de seguir no seu voo porque os respectivos vistos tinham expirado ha uns dias. Olho para a parede onde se encontram os precos e percebo que vou ter que pagar uns 40 euros so por uns diazitos... "Bolas... porque e que nao pensei nisto antes??". Entro no FRRO e percebo que, pela quantidade de pessoas que la estavam e pelo ritmo a que as confusas filas pareciam mover, tenho muitas horas de espera pela frente... "BOLAS... PORQUE E QUE NAO PENSEI NISTO ANTES, ENQUANTO AINDA ESTAVA EM PORTUGAL??".

Foram sete horas de espera mas la fui conhecendo umas quantas pessoas, quase tudo na mesma situacao que eu. E praticamente todas elas me passaram a frente, deduzo que eu tenha sido enviada para o departamento mais lento de todo o FRRO. Mas reparei que todos, no final, desembolsavam a quantia requerida. Quando chegou a minha vez, a simpatica senhora carimbou-me o visto e mandou-me embora. Ainda fiquei a olhar para ela, meio estupefacta. "Posso ir-me embora? Nao tenho que pagar nada??". Nao, nao tive!

Dia seguinte: proxima e ultima paragem - Jaipur!

Ha quase quatro anos atras, trabalhei nove meses num orfanato localizado numa aldeia proxima de Jaipur. Foi uma experiencia incrivel! Sobretudo porque eu tive a sorte de ir parar a uma ONG gerida por um casal de indianos extremamente dinamicos e empenhados na causa pela qual trabalham. Mas desde entao, nao tinha ainda tido a possibilidade de la voltar. Dai que esta minha ultima paragem antes do regresso a Portugal teve um sabor especial, foi quase um mini-regresso a casa, uma segunda casa na India.

Assim que cheguei ao orfanato, senti-me uma velha, daquelas que se poem a apertar as bochechas das criancinhas, enquanto repetem insistentemente a mesma lenga-lenga: "Aiiii, estas tao grande, tao crescida, uma mulherzinha!!". Os sorrisos e a energia altamente contagiante das criancas sao os mesmos, mas numa versao fisica bem mais evoluida!E soube muito bem ver que elas nao foram as unicas a crescer, a ONG e o orfanato tem sabido crescer e evoluir a muitos niveis diferentes.

Para quem esteja interessado em obter mais informacoes, a ONG chama-se Vatsalya e o orfanato (um dos muitos projectos da ONG) da pelo nome de Udayan. O site e o seguinte:

http://www.vatsalya.org/

Depois de uma semana a recarregar energias em Udayan, a brincar com as criancas e a rever amigos, chegou a altura de regressar a Delhi.

E ca estou! Prontinha para terminar esta actualizacao do blog e correr para o mercado, onde espero gastar os meus ultimos trocos!

Segue-se a questao: acabou por aqui este blog?

NAO! Mas isso ja sao cenas dos proximos capitulos...

5 comentários:

Unknown disse...

Já o disse antes, e volto a dizer agora...que inveja...o máximo que tenho viajado é de casa para o emprego e do emprego pra casa :(

Anónimo disse...

Epá, eu vou-me repetir pela enésima vez: és completamente chanfrada! :)

Cá para mim alugaste uma cave na Reboleira e andas a escrever o blogue há meses e meses. Deve ser isso.

Eu, por mim, tudo bem, gosto de ler os textos e ficar a "conhecer" sítios onde muito dificilmente alguma vez irei.

Já disse que és choné?

Maria João disse...

Parece-me bem o próximo capítulo ser América do Sul...wanna join me?! ;-)
Temos q combinar qq coisita qd chegares.
Beijocas

Special One disse...

Mulher! Super Cat! Tenho vindo periodicamente saber de ti ao teu blog e nunca te disse nada. Passada esta eternidade em que tu andaste a ver novas paragens (e eu a criar raízes e rugas), assaltou-me a ideia de que já deves estar por cá!
Dá notícias - agora de Portugal, estância paradisíaca incomparável...! Boa aterragem!

L. Especial

Anónimo disse...

nem sei o que diga... vim parar a este teu "jornal de viagem" por mero acaso, mas como não há coincidências, acho que não foi acaso. Foi porque assim tinha que ser. Tenho uma enorme, Gigante, diria mesmo, vontade de conhecer estas paragens, mas tenho algumas curiosidade que ficaram por satisfazer. Procurei teu mail, mas não encontrei! Como faço para te enviar um mail? pelo sim, pelo não deixo o meu não esperança que escrevas crirebelo@hotmail.com
è que eu tb adoro viajar, ir por aí... conhecer, conhecer...
Contacta-me se puderes e já agora se fores para america sul (como sugeriram) diz-me. adorava ir e não tenho ninguém suficientemente maluco para me fazer companhia.