quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Do Vietname... para o Laos

(Desde que deixei o Cambodja nao consegui voltar a ter acesso ao blogspot.com. Nao sei o que se passara com a internet no Vietname, mas nao houve cibercafe em lugar algum que me permitisse actualizar o blog)

Isto de andar em viagem tem muito que se lhe diga... As vezes parece que o tempo ganha dimensoes diferentes, como se as nossas tao usadas expressoes temporais adquirissem outros significados. Uma semana pode parecer dois dias ou dois meses, conforme as pessoas com quem nos cruzamos, os sitios que visitamos, as emocoes que sentimos. Mas se calhar isto tambem sucede quando nos encontramos no conforto da nossa "realidade" a que chamamos casa e/ou rotina, nos e que nao prestamos tanta atencao porque nos encontramos distraidos com preocupacoes e pensamentos afins sobre o mundo exterior...
Isto tudo para dizer que passaram pouco mais de dez dias desde a ultima vez que aqui escrevi, mas parece que passou uma eternidade.

Aqui vai um esforco de recapitulacao:
Depois de 6 horas de divagacao mental num autocarro, eis que chego ao Vietname. Tudo parece contrastar com o Cambodja: o autocarro deixa de trepidar e saltitar (chegamos a estradas bem asfaltadas), deixa de haver placas ou quaisquer sinais em ingles, as bombas de gasolina e as condicoes em geral parecem transmitir uma imagem mais... ocidental.
Maior limpeza, maior organizacao em geral. Mas isto acompanhado de uma atitude diferente por parte das pessoas: o racio de pessoas amigaveis, sorridentes e prestaveis pareceu diminuir consideravelmente, como se estas tivessem sido substituidas por pessoas mais preocupadas com eficiencia e dinheiro, mais carrancudas e enervadas.

Assim que aterrei na antiga Saigao, actual Ho Chi Minh, conheci a Claire, uma inglesa de 35 anos que anda a vaguear por varios cantos do mundo. Decidimos dar uma volta pela cidade a noite e ambas fomos surpreendidas pelo nivel de desenvolvimento da cidade.
Sinceramente, quando pensava em Saigao, so me vinham a cabeca imagens de filmes americanos sobre a guerra do Vietname. Foi entao uma surpresa descobrir uma metropole recheada de enormes luxuosos edificios, lojas Gucci e Prada, grandes carroes, vietnamitas e ocidentais todos "aperaltados". Mas como nao estava com a minima paciencia para explorar o caos de uma grande cidade, resolvi optar pela praia...

No dia seguinte foi madrugar, correr para o autocarro, enfiar as minhas malas no autocarro que descobri ser o errado, saltar de la para fora, voltar a correr, perguntar a toda a gente pelo meu transporte, ver as caras perplexas dos vietnamitas que nao sabiam responder a minha questao, desesperar um bocadinho, correr mais um pouco e... la acabei por ver um vidro com as palavras magicas: MUI NE. O meu autocarro!!! E foi assim que consegui entrar, poucos minutos antes de o motorista decidir por o seu pezinho no acelerador!



Um pequeno exemplo do caotico transito de motas em Saigao (Ho Chi Minh)

Chegada a Mui Ne:
Arranjei o meu bungalow na praia, toca de mergulhar, torrar ao sol, ler e roncar. No dia seguinte, a Claire veio la ter e passamos dois dias a desfrutar das maravilhas da inutilidade, alternando entre as 4 actividades que mencionei anteriormente.
Mas ao fim de algum tempo a viajar, as vezes torna-se dificil ficar parado num sitio. Como se a mochila nos pedisse para voltar para as nossas costas, em busca de novas paragens.
Decidi por-me a caminho de Nha Trang, local considerado no Lonely Planet como um dos mais turisticos do sul do Vietname mas, antes de partir, fiz um esforco por conhecer um pouco mais da vila de pescadores que e Mui Ne (embora o que salta a vista sejam os inumeros resorts que relembram certas localidades algarvias).


A Claire e eu

Conseguimos libertar-nos da preguicite da praia e fizemos um tour pela zona: visitamos umas dunas de areia que pareciam um autentico cenario de filme. Vieram-me a cabeca titulos como "Lawrence da Arabia" ou "Paciente Ingles".


Um deserto a beira mar plantado


O Por do sol num deserto nublado

Uma das poucas personagens que me relembram sempre que estou no Vietname e nao algures no Ocidente

Deixei a Claire e segui caminho para Nha Trang.
Mal entrei no autocarro (desta vez entrei no veiculo certo), deparei-me com um grupo de 17 italianos, cuja faixa etaria se encontrava algures entre os 25 e os 60 anos.
"ahh, os italianos sao tao engracados, sempre animados, divertidos, cheios de energia".
Isto pensei eu ao inicio da viagem. Ao fim de 6 horas ja so suspirava pelo fim da tortura...
"Mas eles nao se calam nem por um segundo???"

Nha Trang
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Em vesperas do ano novo (dia 7 de Fevereiro) nao da para esquecer que nos encontramos num pais comunista. Pelo menos na teoria... Ha uns dias atras li no jornal que o governo pretende triplicar o numero de turistas no Vietname ate 2012. Fica a duvida: capitalismo comunista, comunismo capitalista ou "nada a ver com nada"?
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Nao gostei de Nha Trang. Ou melhor, adorei la estar durante um dia. Ha momentos a viajar sozinha durante os quais me sinto livre, autonoma, independente. Sou eu, eu e eu, e nao preciso de mais ninguem. Isso sabe maravilhosamente bem! E foi assim que me senti enquanto deambulava por Nha Trang. Por outro lado, nao achei o sitio minimamente interessante: grandes hoteis ao pe da praia, muito transito, muito turismo em grandes grupos.
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O meu objectivo era rumar para Norte, para Hoi An (antiga vila que e hoje Patrimonio Mundial da UNESCO), passar la uns dois dias e seguir para o Laos. Por isso, depois de um dia em Nha Trang, apanhei o autocarro para Hoi An.
Depois de uma hora de viagem, o australiano que ia ao meu lado comecou a falar comigo e, desde entao, foram cerca de 10 horas a falar non-stop sobre tudo e nada - o cosmos, o macrocosmos e o microcosmos. E foi assim que conheci o Steve e o amigo dele, o Mark, com quem ando a viajar ha ja uma semana.
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O Steve, eu e o Mark

A vila de Hoi An fez-me lembrar Obidos. Um sitio com muita historia mas tambem com muitos turistas. Vale a pena visitar mas, a certo ponto, torna-se dificil distinguir entre o que de facto faz parte do passado e o que e produto de uma reconstrucao historica superficial, destinada simplesmente a atrair o maior numero de turistas possivel. Infelizmente nesse dia esqueci-me da maquina fotografica no quarto...

Uma das coisas que mais chamou a minha atencao foi o Museu da Revolucao. Assim que la entrei so vi cartazes em vietnamita, em ingles so se vislumbravam umas pequenas legendas debaixo de alguns (nao todos mas alguns!) objectos expostos. O que li (sobre ambas as guerras contra os franceses e contra os americanos) deixou-me ainda mais curiosa sobre o conteudo dos cartazes grandes.
Aqui vao alguns exemplos:
- objecto: Espada. Legenda: "espada usada pelo Mr Ho para matar um comandante frances"
- sandalias. "sandalias usadas pelo Mr qualquer coisa na guerra contra os franceses"
- pedaco de helicoptero. "partes de um helicoptero americano destruido pela guerrilha qualquer coisa"
- Pedaco de madeira com pregos. "instrumento utilizado para matar os vietnamitas traidores que se tornaram aliados dos americanos"
Infelizmente esqueci-me dos muitos outros exemplos que esperava ter ainda gravados na minha mente.
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Steve & Mark: a felicidade estampada nos rostos de quem consegue finalmente deixar o Vietname para tras
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Bem, estavamos os tres de acordo que, depois de tres dias em Hoi An, o ideal seria seguir para o Laos. Nenhum de nos estava maravilhado com o Vietname (tudo parece sofrer uma forte inflacao por aqui, os precos parecem muito mais elevados que em qualquer outra parte do sul da Asia) e tinhamos todos ouvido descricoes bem mais apelativas do Laos.
O Steve e o Mark queriam chegar rapido a Vientiane porque tinham amigos algures la perto, entao resolvemos optar por uma fronteira que nao e muito usada por turistas, mas que (na teoria) nos permitiria poupar tempo. Toda a gente estranhou quando decidimos comprar bilhete de autocarro para Vinh (porque nao ha turista que opte por la ir, nem havia referencias ao local no nosso Lonely Planet do Sul da Asia), e avisaram-nos que o facto de chegarmos a cidade de madrugada nao nos ia facilitar as coisas. Mas la fomos.
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Como explicar? Nao havia ninguem que falasse ingles, demoramos meia hora a conseguir explicar a um motorista que queriamos um hotel (isto de madrugada, ao frio e a chuva - no norte do Vietname, o Inverno traz recordacoes do fresquinho de Portugal). No dia seguinte foi andar a correr, se nao apanhassemos o autocarro iamos acabar presos nesse fim de mundo que era Vinh por mais 5 dias, porque as celebracoes do Ano Novo estavam prestes a comecar.
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Depois de um taxi, um autocarro e mais dois taxis, chegamos finalmente a fronteira do Vietname.
Muito frio, nevoeiro, homens fardados, armados e com caras de maus. Mostramos passaportes, o antipatico senhor do balcao la os carimba e, de seguida, pede-nos dinheiro. "AAAiiiii, la vamos nos ser roubados novamente"! Era so um dolar mas tornou-se uma questao de honra. Lembrei-me da Laura e do berro que ela deu na fronteira do Nepal, quando nos pediram dinheiro extra. "Nao pago!!!", gritou ela. E o homem la nos deu os passaportes e continuou na sua vidinha, como se nada tivesse acontecido. Depois do Steve e o Mark terem dado o dinheiro, eu resolvi seguir o exemplo da Laura: "Nao pago!!". Mas... houve algo que nao correu bem. Ele olhou para mim, com cara de quem esta determinado a mostrar-me quem manda ali, disse que agora nao me dava o passaporte, e comecou a atender outras pessoas enquanto ignorava as minhas tentativas de comunicacao. Estendi-lhe o dinheiro e ele continuou a ignorar-me, ate que um outro "oficial" la apareceu para me devolver o passaporte e "abarbatar" as notas.
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E foi este o ultimo contacto com o Vietname. Escusado sera dizer que a fronteira do Laos nos apareceu a frente como uma aparicao divina!


Uma miragem: a fronteira do Laos

2 comentários:

Nuno Loução disse...

Não pago!!!!!!!! :DDDD

Anónimo disse...

merecias o laos e nós merecemos te a ti. Temos saudades de ti. MAE