terça-feira, 23 de outubro de 2007

Travessia India - Nepal: primeira etapa

Primeira conclusao: se o guia diz que algum sitio nao e agradavel, talvez isso tenha um fundo de verdade.
Ha varias formas de chegar ao Nepal por terra, varios postos fronteiricos e o nosso guia dizia que o pior sitio por onde atravessar a fronteira e a vila Indiana de seu nome Raxaul!
Claro que esse tinha de ser o posto de fronteira mais perto de Bodhgaya. Para alem disso conhecemos uma finlandesa que tinha vindo do Nepal para a India sozinha e atravessado a fronteira neste mesmo sitio. O balanco nao era assim tao negativo. Segundo ela, a unica parte chata era as estradas serem muito mas. Pensamos entao: se a finlandesa consegue ir sozinha, nos tambem conseguimos (tornou-se uma questao de orgulho!).

Autocarro de Bodhgaya ate Patna. Nao foi mau, mas na altura pareceu, foram 7h de apitos, apitos e mais apitos. Chegamos a Patna a noite, apanhamos riquexos de bicicleta e cada uma foi num diferente. Os simpaticos condutores decidem separar-se um do outro. Enquanto um convence uma a ficar num hotel numa rua escura no meio do nada, a outra, sem o rough guide, tentava nao se esquecer do nome da guest house para onde era suposto irmos. O melhor disto tudo e que desperta o lado raivoso de uma pessoa! La berramos com eles, cada uma com o seu, e acabamos por nos cruzar, por um acaso do destino, na rua pretendida.
Depois sao os dois palhacos dos condutores a fingir que nao sabem como chegar ao hotel que nos queremos. Claro! Queriam levar-nos para um hotel caro para receberem comissao. Aaaaai, a raiva!! Vimos um hotel, berramos para eles pararem e comecam a dizer que ali nao aceitam estrangeiros. 'Foreigners not allowed, foreigners not allowed'. O caracas, pensamos. Saimos, fomos la e um dos condutores veio atras. Quando entramos no hotel e perguntamos o preco veem-se olhares cumplices entre o condutor do riquexo e o homem do hotel. Trocam uns sorrisinhos idiotas (parecia que estavamos na primaria!!!) e dizem a frase magica: 'foreigners not allowed'.
Mal saimos dali, vemos outro hotel. 'Tu ficas aqui a porta', berramos para o palhaco do condutor de riquexo. Acho q nunca deu tanto gozo berrar com alguem, estavamos capazes de lhe partir as perninhas. Claro que depois de entrarmos neste hotel nos arranjaram logo um quarto. E com TV, primeiro luxo!
Mal sabiamos nos que o melhor ainda estava para vir!

Dia seguinte: apanhar autocarro para Raxaul.
Raxaul e o posto fronteirico do lado da India. Birganj fica ja do lado do Nepal. O rough guide desaconselha vir por aqui, mas diz que, caso alguem decida passar esta fronteira, o melhor e ficar alojado neste ultimo. Descreve Raxaul como 'the evil twin sister of Birganj'.
Primeira duvida: levantar dinheiro ou nao levantar? Ja nao tinhamos muitas rupias indianas, mas tinhamos dolares e euros. Sabiamos que as notas de 500 rupias indianas eram ilegais no Nepal e tambem por isso achamos melhor nao levantar. 'La nao deve haver problema, se houver trocamos os dolares. Senao depois levantamos rupias nepalesas em Birganj'. Nao foi uma decisao propriamente sensate, mas uma coisa e certa, nao chegamos com notas ilegais. Alias, nem ilegais, nem legais! O que nos nao fazemos para cumprir a lei!

Conseguimos apanhar autocarro as 11h. Para Raxaul, segundo somos informadas. Como a viagem deveria ser de 6h, estavamos a contar chegar a Raxaul pelas 17h/18h no maximo. Aah, porque o guia dizia que, embora a fronteira, supostamente, devesse estar aberta 24h, os guardas pelas 19h resolvem ir para casa fazer a sesta.
Estradas mas, bem piores que as que tinhamos apanhado no dia anterior. Muitos apitos. E porque? Porque eles conduzem no meio da estrada e vao-se 'desviando' dos carros que passam. Tem que ir buzinando entre si para avisarem que se aproxima um veiculo. Toca a chegar para o lado. Qual lado? o condutor decide na altura... Isto tudo num autocarro que, embora semi-podre, tinha TV com DVD a passar filmes indianos a altos berros (sorte a nossa termos ficado mesmo debaixo das colunas! E sorte a dos nossos timpanos, por terem sobrevivido).

Ora bem, 15h30 e o autocarro para no meio de uma vila bem bem atrasada (isto tudo ainda e o estado do Bihar, um dos estados mais pobres e atrasados da India, conhecido por ser um estado particularmente corrupto e recheado de bandidos. Hehe, aventuras e o que nos queremos? Estamos no sitio certo!. 'Bus stop, to Raxaul other bus'. E la vamos nos para o outro bus. Com isto nao contavamos. Uma hora a espera, sao 16h30 quando o belo do autocarro parte.
Quanto tempo ate Raxaul? Mais duas horitas. Beeem... a pior estrada de sempre!!!
Fica escuro, nao se ve nada, o autocarro da tantos saltos que quase se vira.E quando reparamos que a volta da estrada esta tudo alagado. Estamos literalmente no fim do mundo, a caminhar nao sabemos para onde, quando do nada um simpatico passageiro decide atacar o homem que vende os bilhetes do autocarro (o qual ja devia ter tomado muita porcaria alucinogenea porque estava com um ar meio atordoado). Comeca a dar-lhe pontapes e saca da navalha (estavamos nos no banco da frente a assistir tudo de camarote!) e saltam os dois para a rua. Tudo escuro, nao se via vivalma. O condutor e uma data de homens saltam tambem la para fora e desaparecem.. Surreal. Deu-nos para rir, ataque de riso idiota (o que nao e agradavel depois de umas 7h sem casa de banho).
Bem, os homens la regressam, excepto o senhor da navalha. Sabe-se la em que estado tera ficado…E o autocarro retoma a sua marcha, como se nada se tivesse passado. Mais uns saltinhos no escuro, passa uma hora e chegamos ao destino.
Raxaul....Aparece-nos logo um condutor de riquexo (novamente bicicleta, mas desta vez contorcemo-nos todas para cabermos num so) e pedimos para ele nos levar ao posto fronteirico. CLOSED!! Claro... e quantas rupias tinhamos nos no bolso nessa altura???? Xaraaaaann: com todos os troquinhos tinhamos menos de 200 rupias indianas (portanto, menos de 4 euros). O riquexo leva-nos a um hotel semi-podre E ai que descobrimos, ao tentar pagar, que nos tinham dado o troco do autocarro em rupias nepalesas, ou seja, se achavamos que tinhamos uma nota de 50 rupias indianas, descobrimos que afinal essa mesma nota so valia 30 rupias. Isto porque? Porque a nota era nepalesa!!! Estavamos entao ainda mais falidas do que pensavamos. Novo ataque de riso em frente ao staff do hotel que so olhava para nos com ar incredulo. De facto, nao era suposto acharmos piada a situacao…La conseguimos um quarto por 2euros e meio (Aquilo seria um quarto?? Conseguiu bater o nosso ranking de hoteis nojentos!. As manchas vermelhas da parede deixaram-nos na duvida:seria aquilo vomitado ou vestigios de sangue?). Mas ainda tinhamos que pagar ao homem do riquexo. E ja nem tinhamos agua. Resultado: foi o homem do riquexo que nos emprestou dinheiro para podermos comprar agua e comida (ja nao comiamos ha mtas horas). Mesmo assim tivemos de dividir um mini prato, que ainda para mais estava muito picante, o que nao e bom quando so temos uma garrafa de agua para as duas ate ao dia seguinte…E isto num pais onde nao se deve beber agua da torneira…

No meio de tudo so conseguiamos ter ataques de riso dos mais estupidos. Ataques de riso e ataques de furia com os indianos. O melhor e que conseguimos alternar sempre, ou esta uma com vontade de abater indianos ou e a outra que esta numa de os fulminar.

Pela manha tudo se resolveu. Tivemos uma sorte descomunal: encontramos um casal de eslovenos que nos trocou 5 euros por rupias indianas (porque aqui nos 'offices' eles se recusavam a trocar quantias tao pequenas, diziam q so trocavam 1500 dolares. Como se nos tivessemos isso!!), deu para pagar ao riquexo, atravessar a fronteira e no Nepal la descobrimos um MULTIBANCO a funcionar.

3 comentários:

Rui disse...

Esta história é melhor que 3/4 dos filmes que chegam as salas cinema. O meu obgd à finlandesa, por uma questão de orgulho, tivemos esta história emocionante. Já tava a imaginar uma cena ao estilo do Tarantino com vcs a darem um enxerto porrada no condutor, ñ fosse o vosso desejo de cumprir sempre a lei, e isto ainda tinha sido melhor, ehehe

Anónimo disse...

as vossas historias dao para quebrar a monotonia das nossas vidas ...ás vezes assusto me.Apetece me ir visitar vos .Façam dias felizes.MAE CILA

Anónimo disse...

Obrigado por Blog intiresny